

No último ano, mercados autônomos em prédios residenciais de Curitiba e cidades metropolitanas registraram crescimento de 53,5%, classificando a região como espaço fértil para ampliação desse modelo de negócio

Se antes da pandemia de Covid-19 era inusitado encontrar conveniências e mercados dentro de espaços residenciais, especialmente em condomínios, esse cenário tem se revertido nas cidades brasileiras. Algumas mudanças no comportamento do consumidor, como a necessidade de isolamento social e a busca por serviços cada vez mais rápidos, contribuíram para que um novo modelo econômico entrasse em ascensão: o pequeno varejo, popularmente conhecido como “varejo de proximidade”.
De acordo com a empresa de dados Kantar, entre 2019 e 2021, o pequeno varejo representou mais de 23% dos gastos totais no orçamento das famílias no Brasil, além de atrair 7,6 milhões de novos compradores. Essa tendência, que se espalhou por diversos segmentos do mercado, pode ser vista de maneira mais contundente no campo supermercadista, com o surgimento dos chamados “mercados autônomos”.
Mercados autônomos geralmente são instalados em um espaço pequeno (entre 5m² e 30m²) e funcionam 24 horas por dia. Marcados pela confiança nos consumidores, os comércios apresentam ausência parcial ou completa de funcionários – característica que explica o uso da palavra “honesto” como definição desse modelo de negócio.
“O varejo está ligado à ideia de conveniência, de trabalhar facilidades ao consumidor. E esses mercados pequenos geram uma conveniência para quem está dentro dessas estruturas, principalmente pela questão de rápido tempo e acesso”.Paulo Machado, professor
Para ilustrar como o comportamento do consumidor impulsionou o crescimento do setor, um estudo divulgado pela Allis Field Marketing mostrou que, em 2021, o percentual de brasileiros que buscavam por mercados localizados próximos de suas residências teve alta de 20%, enquanto os minimercados registraram aumento quase simultâneo de 21% em seu faturamento.
“O varejo está ligado à ideia de conveniência, de trabalhar facilidades ao consumidor. E esses mercados pequenos geram uma conveniência para quem está dentro dessas estruturas, principalmente pela questão de rápido tempo e acesso”, explica o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutor em varejo de serviços, Paulo Machado.
Apesar de ter surgido na pandemia, a tendência continua presente no cenário econômico atual. Em levantamentos realizados pela Associação Paulista de Supermercados (APAS), o país contava, até o fim de 2024, com aproximadamente 10 mil mercados autônomos, um crescimento de 53,5% em comparação com 2023. Em contrapartida, os tradicionais super e hipermercados tiveram baixa de 10,1% no mesmo período comparativo.
Apesar de não haver números precisos sobre a quantidade de mercadinhos honestos em Curitiba e Região Metropolitana, alguns pontos urbanos estão mais suscetíveis a expansão desse modelo econômico devido a concentração de prédios residenciais ocupados. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através do Censo 2022, mostram que 39% dos curitibanos moram em domicílios como condomínios e apartamentos. Ao entorno da capital, quatro cidades da região metropolitana se destacam: São José dos Pinhais (25%), Pinhais (17%), Araucária (16%) e Colombo (13%).